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Uso do MDMA para tratamento do TEPT: por que ainda há tanta resistência sobre isso?

  • Foto do escritor: Dr. Lucas Cury
    Dr. Lucas Cury
  • 27 de jun.
  • 4 min de leitura
Por Lucas Cury
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O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) é uma condição que está acometendo um grande número de pessoas no mundo – nos Estados Unidos, a estimativa é de uma população na ordem de 13 milhões, enquanto que no Brasil esse número chega a 2 milhões, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso é alarmante, principalmente se levarmos em conta o fato de que as terapias existentes oferecem alívio somente para uma parcela dos pacientes.


As pessoas portadoras de TEPT desenvolvem esse problema ao serem vítimas de situações extremas como acidentes graves, agressão física ou sexual, vários tipos de abuso, guerra, experiências de parto traumáticas, desastres naturais, entre outros, que as tornam incapazes de seguir em frente e levar uma vida normal. Ainda há muita gente sofrendo os efeitos disso, lidando com um tratamento ineficaz e sem um norte de melhora.


No Brasil, há uma quantidade enorme de pessoas que enfrentam problemas mentais pelo estresse severo. Dados de 2022 mostram que mais de 1.600 policiais foram afastados por problemas de saúde, incluindo TEPT, em um período de pouco mais de um ano. Já o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024 revelou um salto nas ocorrências de suicídio entre esses profissionais, especialmente em São Paulo (80%) e Rio de Janeiro (116,7%).


Cenários como esse se tornaram comuns durante os atendimentos clínicos e estão jogando luz à necessidade de se adotar novas alternativas de tratamento para tentar resolver a dor desses pacientes. Nos últimos anos, a comunidade médico-científica passou a estudar os efeitos medicinais das substâncias psicodélicas como o MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina) para ser utilizado em terapia assistida. E muitos achados interessantes têm sido encontrados nestas pesquisas.


Estudos de fase 3 publicados em periódicos de alto reconhecimento como a revista Nature Medicine, por exemplo, demonstraram que a terapia assistida por MDMA promove uma redução clinicamente significativa nos sintomas de TEPT, com grande efeito terapêutico mensurado pela escala CAPS-5 - ferramenta validada internacionalmente que avalia a gravidade dos sintomas da doença com base em critérios padronizados e entrevista clínica estruturada, além de expressivas melhorias funcionais e taxas muito reduzidas de efeitos adversos.


Em uma das pesquisas, que envolveu pacientes que fizeram uso do MDMA durante a terapia assistida e outros com placebo, houve três casos de pacientes que chegaram a tentar o suicídio, sendo que uma delas foi hospitalizada, no grupo que utilizou o placebo. E no outro grupo, com o MDMA, houve redução de ideação suicida.


O MDMA “inunda” o cérebro com os hormônios serotonina e ocitocina, o primeiro acalma a amígdala, região responsável por processar o medo e a ansiedade o que atenua a resposta de fuga, permitindo que os pacientes explorem experiências passadas sem a reatividade habitual, já o segundo é o que as mães produzem no período gestacional e de lactação associado ao aumento de afeto e amor, promovendo uma sensação de aumento da conexão interpessoal.


Hoje estamos diante de um movimento de resistência por parte de vários órgãos reguladores de vigilância sanitária ao redor do mundo para aprovar esse tipo de substância. As devolutivas negativas a respeito de uma possível aprovação normalmente têm como pano de fundo o preconceito que existe por conta da adoção do MDMA, conhecido popularmente como ecstasy, para fins recreativos, e como uma substância que causa vício.


Essa última afirmação usa como referência um estudo científico sobre o tema cujo autor declarou que houve conflito de interesses, já que sua pesquisa foi subsidiada por empresas farmacêuticas que se beneficiam dos tratamentos atualmente disponíveis no mercado para TEPT. A introdução de uma nova abordagem terapêutica – inovadora, potencialmente disruptiva e baseada em uma substância que não é passível de patente ou monopólio – representa uma ameaça concreta à manutenção de seus modelos de negócio e à preservação de mercado.


Vale lembrar que há alguns anos passamos por algo semelhante em relação à cannabis. Hoje, após sua aprovação junto à Anvisa, depois de muita luta, vemos muitos pacientes ganhando qualidade de vida ao ter acesso a tratamentos assistidos com essa substância – segundo informações da consultoria Kaya Mind, o Brasil atingiu a marca de 672 mil pacientes que hoje se tratam com cannabis medicinal, um aumento significativo em relação ao ano anterior. A substância é utilizada para tratar diversas condições, a lista é imensa, como epilepsia, esclerose múltipla, dores crônicas, transtornos de ansiedade, distúrbios do sono, doenças neurológicas, entre outras.


No mundo, já temos alguns exemplos de países que têm uma regulação que permite o uso do MDMA em terapia assistida para casos de TEPT, como a Austrália, que atualmente está na vanguarda dessa terapia. Além disso, há muitos depoimentos de pacientes ao redor do mundo que fizeram o uso do MDMA em terapia assistida e obtiveram bons resultados, como é o caso da inglesa Rebecca Huntley, que desenvolveu TEPT ao ter sido violentada e abusada durante a infância, além de enfrentar dois abortos e a morte de um bebê durante o nascimento. Sua experiência foi relatada no livro “Sassafras: A memoir of love, loss and MDMA therapy”, escrito por ela e ainda sem publicação no Brasil


É importante destacar que não estamos buscando o uso indiscriminado do MDMA, mas sim a utilização da substância durante terapia assistida conduzida por médicos preparados para ministrá-la de forma segura, com a presença inclusive, de acompanhantes do paciente para garantir o acolhimento e a segurança durante o processo. Muita gente será beneficiada com esse tratamento, o que, inclusive, pode refletir em um desafogamento do sistema de saúde brasileiro, com a redução do volume de atendimentos de pessoas com doenças mentais como a TEPT.


Sobre o Dr. Lucas Cury

Sou médico pós-graduado em neurologista, especialista no uso da cannabis medicinal como ferramenta terapêutica para diversas condições neurológicas. Minha abordagem é baseada em ciência, segurança e personalização do tratamento, sempre focada na melhora da qualidade de vida dos meus pacientes. Com anos de experiência, combino tecnologia, pesquisa e atendimento humanizado para oferecer soluções eficazes para doenças como epilepsia, dor neuropática, Parkinson, Alzheimer, esclerose múltipla, autismo e distúrbios do sono.


Quer saber mais sobre como a cannabis medicinal pode ajudar no seu caso? Agende uma consulta  pela (21) 99640-9046 ou clique aqui

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